41°23′20″N 02°09′32″E

Será que algum dia vou encontrar alguém que realmente entenda tudo aquilo que vivenciei e senti? Será que existe esse alguém que possa ser meu amigo pra relembrar coisas diferentes mas sentir a mesma dor? Sentir saudades, amor e ódio? Será que existe alguém com tanta contradição?
Desde que voltei sinto-me estúpida. Tenho uma experiência inacreditável que carrego comigo arraigada no meu ser e o melhor que consigo fazer com tudo isso é simplesmente guardar comigo. Por que? Porque ninguém consegue entender ou abandonar essa visão medíocre e colonizada, essa visão de inferioridade e de subdesenvolvimento. Ninguém quer entender, então pra quê dialogar? Pra quê tentar mudar um pensamento burro e estagnado? Tudo está em mim: roupas, pronunciação de palavras, termos, costumes, comportamentos, parte de uma cultura. E então eu me pergunto: como lidar com tudo isso do modo menos patológico possível? Como existir sabendo que durante toda a minha vida pouquíssimas pessoas terão passado pelo que passei e terão a visão que eu tenho desde tão cedo na vida? Como aguentar pessoas sem essa experiência, com visões burras e tagarelas, pessoas contanto vantagem e falando asneira por passarem férias em outros países, pessoas que passam uma curta temporada em outro lugar?
Antes ainda possuía alguma esperança de acrescentar algo para as outras pessoas que nunca experienciaram nada tão intenso quanto eu, mas era inútil e francamente não posso culpar ninguém por isso. Cada um tem suas experiências de acordo com o que lhe foi possível experienciar, e é extremamente difícil entender algo de que não se tem vivência, principalmente neste caso onde os valores são tão enraizados. É um problema meu comigo mesma e com a maneira que lido com isso e o restante da sociedade.
Hoje estou em crise, mas não "hoje", dia 30 de abril de 2013, é hoje nessa fase da minha vida. Atualmente não tenho tolerância, não tenho paciência nem bom humor. Estou estagnada numa posição que me obriga a aceitar a ignorância calada, com educação e com um sorriso no rosto. Me sinto vivendo em uma ditadura comigo mesma. Sou o ditador e a vítima, mas como é possível? Desde o dia 7 de setembro de 2006 passei a me sentir assim e é simplesmente angustiante. Viver na contradição, nos extremos, no dilema, na tormenta. Como é possível caber tanta dor adormecida e ao mesmo tempo latente em um ser humano? Como ser sadio? Como posso continuar tentando manter minha sanidade, pela segunda vez porém em outras circunstâncias? Como permanecer no lugar que amo e sempre quis estar, minha cidade, se essa é a mais nova causa e consequência do meu sofrimento? Como existir em um só lugar se eu pertenço a dois? Como existir com esse tipo de vazio? Como existir pertencendo e não sendo pertencida? Como existir Santa Maria também sendo Barcelona?

Como ser Natália, Natalia e Natàlia e continuar uma só?

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